segunda-feira, 31 de março de 2014

David Bowie - Aladdin Sane (1973)



"O camaleão do rock não mudou de cores entre o revolucionário Ziggy Stardust..., e Aladdin Sane, de 1973 (sua tentativa de quebrar as resistências do público americano). Ele inda era a mesma estrela infantilizada do glitter-rock, "making love to his ego", como dizia em "Ziggy Stardust".

Composto em boa parte durante a turnê de Bowie pelos Estados Unidos em 1972, Aladdin Sane começa onde Ziggy parou e conta as memórias brutais da ascensão meteórica de um artista de rock ao estrelato. O desespero e a demência escorrem pelas faixas, enquanto o personagem central luta para, em meio ao estupor de drogas e álcool, encontrar algum tipo de revelação e, talvez, se redescobrir. O novo personagem não provoca a mesma empatia que Ziggy, mas o álbum provou suas qualidades, graças a músicas cativantes como "Panic in Detroit", "Time" e "The Jean Genie".

Como em Ziggy, o guitarrista Mick Ronson é uma estrela também neste álbum. Ele se atira à guitarra, no estilo de Keith Richards, na sensacional faixa de abertura, "Watch that Man", e parece o godzillla visitando Suffragette City na malvada "Panic in Detroit". O produtor Ken Scott, que foi o engenheiro de som de Magical Mystery Tour e White Album, dos Beatles, vai da sofisticação da faixa-título ao rock obsceno de "Cracked Actor".

O teclado de Mike Garson enfeita a faixa final, a arrepiante "Lady Grinning Soul", enquanto a melodramática leitura de Bowie de "Time" é o verdadeiro hino do álbum. O único ponto fraco do disco está na interpretação equivocada de "Let´s Spend the Night Together", dos Rolling Stones."

(resenha extraída do livro "1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer")

Disco em ótimo estado. Capa em muito bom estado (com envelhecimento natural de uma edição original de 1973).
Edição Brasileira, original 1973.
Saindo por R$ 50,00





Milton Nascimento - Minas (1975) e Geraes (1976)



"Se depois de quase quatro décadas ainda permanecer válida a informação, reparem que o disco Minas tem nas duas únicas sílabas de seu título, as primeiras do nome e sobrenome artísticos de Milton Nascimento. Essa coincidência foi notada pela inocência ladina do menino Rúbio que ainda naquele 1975 receberia como agradecimento oficial pela inspiração, a dedicatória de um dos álbuns mais importantes de Milton Nascimento.

Diga-se de passagem, o disco é povoado pela manifestação jovial da primeira idade. Num álbum tão intenso em significados e belezas quanto aqueles anos de chumbo o eram por autoritarismo e violência, alguns desses intervalos para o recreio soavam ao longo de sua audição como que para resgatar do pesadelo a criança adormecida em algum canto de cada brasileiro. Realmente tornava-se ainda melhor ouvir Minas do alto da pureza de um galho de árvore nalgum quintal de nossas memórias meninas.
Talvez com essa intenção, um coro infantil nos leva pela mão até o belo tema instrumental de abertura, “Minas”, do pernambucano Novelli. O vocalise e o violão do artista nos inserem no contexto do disco preparando-nos a viagem através das Minas de Milton Nascimento. Revelando finalmente de onde provinha aquela linha melódica, os meninos insurgirão definitivamente em “Paula e Bebeto” – a décima faixa que inaugura a parceria de Milton Nascimento com Caetano Veloso. Há que se reconhecer que sempre fora a coragem uma das coisas mais admiráveis no Clube da Esquina. Se tivéssemos essa liberdade, assim chamaríamos então mais uma prática de muitas das santas inocências de um movimento que aqui se permite abrir o disco de um dos maiores cantores de todos os tempos da MPB, com uma faixa desprovida de letra. Não foi à toa que essa agremiação etérea ganhou mundo a partir de um pedaço de calçada.

Minas, contudo, tem outros vários diamantes. Um deles é “Fé cega faca amolada”, diamantina em todos os sentidos. Da combinação perfeita entre a melodia de Milton e a letra de Ronaldo Bastos, partimos embarcados no arranjo que sustenta um duelo de “bês” entre Bituca e Beto (Guedes) mediado pelo o violão de Toninho Horta, até o interlúdio rock-jazz sensacional que, como reza a tradição do Clube, é um momento instrumental que vale por si só. Em seguida, uma sequência de tirar o fôlego.

Começa em “Beijo partido” de Toninho Horta, a quem poucas vezes veríamos assinando sozinho uma canção. Considerando a definição técnica de “canção” como o conjunto de melodia e letra, o que se vê ao longo da carreira desse admirável compositor e músico é que poucas vezes suas autônomas seis cordas precisariam lançar mão de palavras próprias para se expressarem. Esse beijo nos é dado para selar uma dessas exceções. A canção de abandono que se tornaria clássica, é linda por si só, mas para os iniciados em harmonia é um banho renovador de acordes sequenciais do ourives Toninho Horta.

“Saudades dos aviões da Panair” de Milton e Fernando Brant, dá asas uníssonas aos nossos sonhos moleques de voar. Como num roteiro de Spielberg, por encanto um bonde cria asas para constatarmos a pequenez humana diante da obra perfeita de Deus. A melodia desce ladeiras, voa e esculpe nuvens com um barroco mineiro feito por seus autores impactados pela trágica e sublime trajetória do indivíduo pela vida. Pungente e incomum.  
Vamos agora festejar a costela que vai se quebrar em “Gran Circo” de Bituca e Márcio Borges. Debuta nela a cantora Fafá de Belém em um vocalise interlúdico que serve de repouso para a marcha brancaleônica da sina brasileira naquele eterno agosto político da década.

Encontramos um repouso nostálgico no ponto final de “Ponta de areia” dos mesmos Nascimento e Brant. O neodobrado parece ser executado das ruínas de um coreto para uma cidade fantasma onde a ferrovia que levava ao mar não passa mais. Uma beleza com gosto de mato e sal que eterniza o obscuro trecho férreo e, à sua maneira, mantém seus trilhos fincados no coração de Minas.          
Remanso ou cachoeira, seja o que for que se apresente depois da curva de rio de “Simples”, canção de Nelson Ângelo, será um belo cenário para fechar um disco e deixar aberto seu fluxo em direção ao mar. Mas antes disso, passamos pelo psiquismo jazzy de “Trastevere” - parceria de Ronaldo Bastos com Milton onde o rio romano Tibre corta as montanhas de Minas e pelo idílico convite à felicidade a dois de “Leila” – só de Bituca. Há ainda o pós-feminismo escondido em “Idolatrada”, mais uma grande parceria de Nascimento com Brant que a um tempo só reverencia e protege-se dos poderes da mulher sobre a fragilidade masculina.

“Paula e Bebeto” é uma quintessência parda no álbum. Citada melodicamente pelo coro da meninada desde a abertura do disco, ela emerge em várias faixas como que para mostrar que sua importância sempre estivera subterraneamente presente. A abertura na música dessa estrada natural ligando Minas de Milton a Bahia de Caetano aqui se dá pela primeira vez. O encontro de fronteiras corriqueiro em livros de geografia não poderia passar em brancas nuvens em nosso cancioneiro, até porque se daria de maneira bissexta por apenas mais cinco vezes na história da MPB. A bela trama romântica de “Paula e Bebeto” valeria tanto à pena que seria ainda reproduzida pelas vozes de Gal Costa e Geraldo Azevedo mantendo um curioso acento nordestino na melodia cunhada por um violão mineiro.
   
Enorme e misterioso como a unidade federativa, o álbum Minas traz os elementos da estética do movimento clubistaperenes e estabelecidos, mas nem por isso, menos arrebatadores. O alcance da maturidade musical deste exuberante grupo de compositores, músicos e amigos aliados a um dos mais orgânicos conjuntos de repertório já selecionado, fazem de Minas um state of the art do movimento e da obra fonográfica de Milton Nascimento.




Geraes completa Minas. Como se não bastasse usar uma canção do mesmo Nelson Ângelo que encerra Minas para atar a “bilogia” com a cândida “Fazenda” em sua primeira faixa, os sinais evidentes de continuidade começam visuais com o despretensioso e belo desenho do próprio Milton retratando um trenzinho cruzando um vale sob o sol usado no encarte de Minas, aparecendo agora como capa de Geraes. A opção vintage pela grafia antiga do estado mineiro pode indicar uma fidelidade inconfidente de Milton às raízes, contudo, sem deixar de pluga-las à fotossíntese libertária de luzes externas.  E elas surgem de todos os lados.

Há a presença quase mística da argentina Mercedes Sosa no clássico da chilena Violeta Parra, “Volver a los 17”.  Os belos perfis femininos de Mercedes – combativa oponente da ditadura militar em seu país e Violeta – brilhante compositora atormentada que se suicidara em 67, eram antes praticamente desconhecidos do público jovem no Brasil.  Amparados pela ponte erguida até los hermanos desde o álbum original do Clube da Esquina, a troca de flâmulas continua nas extraordinárias “Caldera” e “Promessas de sol” – a segunda, parceria épica de Milton e Fernando Brant e a primeira, composta por Nelson Araya – violonista líder do grupo chileno Água que é participação especial nas duas faixas. Dois monumentos musicais latino-americanos revelando que nossas identidades continentais não se limitavam apenas à deformação sórdida das ditaduras políticas vigentes nos dois países.

Para desbaratar a tacanha visão militarista do socialismo patrulhado com sádico apetite em cada disco emepebista da época, a fé brilha à margem de tudo em “Calixbento”. Uma adaptação daquelas que só mesmo um folclorista como Tavinho Moura, conseguiria elaborar. Tambores, violão e viola interioranos vão nos guiando até onde Deus costuma gostar de fazer morada: na música popular. Compará-la com o que se chama de “música gospel” hoje no país, seria praticamente uma blasfêmia. Por outro lado, não há como negar o mote religioso coerente com a formação cultural mineira e ao mesmo tempo constatar que uma boa canção pode inspirar-se na fé usando o refinamento da música popular e, ainda assim, conseguir êxito até em ouvidos pagãos. Mistérios da canção.  

Assassinado à bala pela PM durante uma passeata dentro de um restaurante carioca que tinha o irônico nome de Calabouço, o estudante Edson Luís de Lima Souto comoveu o país em 28 de março de 1968. O corpo deste primeiro estudante brasileiro assassinado pela ditadura verde-oliva foi, no calor do drama de sua morte, carregado pelos colegas em uma gigantesca passeata-procissão até a Assembleia Legislativa, onde seria velado fazendo a memória de seu martírio e causa serem respeitados à força pelo autoritarismo do Presidente Costa e Silva. “Menino” põe novamente o dedo nesta ferida repartindo com todos a responsabilidade passiva pela violência que se repetira na sociedade brasileira com incidência progressivamente aumentada desde a morte do menino mártir até a publicação do álbum.

Rescendendo aos mesmos perfumes bucólicos de “Fazenda”, “Carro de boi” (de Maurício Tapajós e Cacaso) trilha a mesma estrada preguiçosa de “Lua girou” – bela adaptação do folclore feita por Milton Nascimento. “Viver de amor” se contrapõe a esse cenário com suas tintas mais cosmopolitas. Ela é o resultado da melodia de Toninho Horta letrada por Ronaldo Bastos – o “estrangeiro” fluminense do clube mineiro.

Outra fluminense, não de Niterói como Bastos, mas de Valença, brilha como joia de ébano em Minas.  Com seus 75 anos de raça e juventude, Clementina de Jesus quebra tudo ao lado de Bituca eternizando o “Circo Marimbondo” erigido pela pena do poeta, parceiro de Milton na canção e produtor do disco, Ronaldo Bastos.
Retribuindo a participação “acidental” de Milton em Meus Caros Amigos provocada pela audição ocasional do ensaio de Chico com Francis Hime para a gravação, o choque estelar com Chico Buarque é “formalmente” bisado em Minas. O dueto acontece novamente em “O que será” – musica que Milton declarara à imprensa que gostaria de ter composto. Entre as três versões criadas por Chico para o filme “Dona Flor e seus dois maridos”, a intensa À flor da pele foi a escolhida. Abençoado seja o anjo que provocou esse encontro que ainda propiciaria aos nossos ouvidos plebeus as canções “Primeiro de Maio” e “Cio da terra” entre as cinco que Chico e Milton comporiam juntos.

É incomum na obra de qualquer artista a produção de duas obras-primas consecutivas, aparentemente isso não se aplica a Milton Nascimento e como o desenho circular do sol traçado em sua capa, o disco encerra onde tudo começa. A melodia de Novelli que abrira Minas ressurge traduzida em palavras pelo poeta Ronaldo Bastos. O coração aberto ao vento em flautas e violão assenta na eternidade as vinte e três canções de Minas Geraes como se eterno fosse não aquilo que perdura por todo o tempo, mas o que tem o dom de sequer considerar sua existência. "

(http://deusamusica.tumblr.com/post/47791389596/minas-1975-geraes-1976-milton-nascimento-se)

1. Minas
    (Novelli) Instrumental- Música incidental: “Paula e Bebeto”
2. Fé Cega Faca Amolada – Participação de Beto Guedes
    (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)
3. Beijo Partido – Participação de Toninho Horta
    (Toninho Horta)
4. Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)
    (Milton Nascimento / Fernando Brant)- Música incidental: “Paula e Bebeto”
5. Gran Circo
    (Milton Nascimento / Márcio Borges)
6. Ponta de Areia
    (Milton Nascimento / Fernando Brant)
7. Trastevere
    (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)
8. Idolatrada
    (Milton Nascimento / Fernando Brant) - Música incidental: “Paula e Bebeto”
9. Leila (Venha Ser Feliz)
    (Milton Nascimento) - Instrumental
10. Paula e Bebeto
    (Milton Nascimento / Caetano Veloso)
11. Simples
    (Nelson Ângelo)

Gravado nos Estúdio EMI-ODEON – Rio de Janeiro – 1975/ Gravação Toninho e Dacy/ Assistente de gravação Seginho/ Remixagem Nivaldo Duarte’/ Corte Osmar Furtado/ Montagem Ladimar/ Produção artística Ronaldo Bastos/ Ambientação musical Wagner Tiso e Milton Nascimento/ Assistente de produção Toninho Vicente/ Contra-regra Ivanzinho/ Cafezinho Seu Nonato/ Capa Cafi, Noguchi e Ronaldo Bastos/ Lay out-arte Noguchi, Wanderlen e Barbosa/ Foto Cafi/ Desenho Milton Nascimento

Geraes
1. Fazenda
    (Nelson Ângelo)
2. Calix Bento
    (Tradicional / Adpt. Tavinho Moura)
3. Volver a Los 17 – Participação de Mercedes Sosa
    (Violeta Parra)
4. Menino
    (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)
5. O Que Será (À Flor da Pele) – Participação de Chico Buarque
    (Chico Buarque)
6. Carro de Boi
    (Maurício Tapajós / Cacaso)
7. Caldera – Participação de Grupo Água
    (Nelson Araya)
8. Promessas do Sol – Participação de Grupo Água
    (Milton Nascimento / Fernando Brant)
9. Viver de Amor
    (Toninho Horta / Ronaldo Bastos)
10. Lua Girou
    (Tradicional / Adpt. Milton Nascimento)
11. Circo Marimbondo – Participação de Clementina de Jesus
    (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)
12. Minas Gerais
    (Novelli / Ronaldo Bastos)

Gravado nos Estúdios EMI-ODEON – Rio de Janeiro – 1976/ Produtor fonográfico EMI Fonográfica, Industrial e Eletrônica S.A./ Direção artística Milton Miranda/ Direção de Produção Mariozinho Rocha/ Supervisão Musical Milton Nascimento/ Produção Ronaldo Bastos/ Gravação Roberto e Dacy/ Remixagem Nivaldo Duarte/ Corte Osmar Furtado/ Montagem Ladimar/ Arranjos de base Milton and Friends/ Assistente de produção Toninho Vicente/ Agente Paulo Pilla/ Contra-regra Ivanzinho/ Cafezinho Nonato/ Capa Cafi, Noguchi e Ronaldo Bastos/ Fotos Cafi/ Desenho Milton Nascimento


Disco (duplo) em excelente estado e e capa (dupla, com todas as letras) em ótimo estado. Relativamente raro.
Edição Limitada - numerado, contendo os discos "Minas" e "Geraes".
Saindo por R$ 60,00

quinta-feira, 27 de março de 2014

Traffic - John Barleycorn Must Die (1970)



"Após o fim do Blind Faith, Steve Winwood inicia a gravação de seu primeiro álbum solo, para tanto, convida seus antigos companheiros do Traffic, o entrosamento é tão grande que eles resolvem retomar a banda. Mesmo sem a presença do guitarrista Dave Mason, eu arrisco a dizer que este é o melhor álbum produzido pelo Traffic."

(http://acasaderoderick.blogspot.com.br/2009_01_01_ archive.html)

Steve Winwood - guitarra, orgão, piano, percussão, vocais
Chris Wood - flauta, orgão, saxofone, percussão
Jim Capaldi - bateria, percussão, vocais

1. Glad (6:59)
2. Freedom Rider (5:30)
3. Empty Pages (4:34)
4. Stranger to Himself (3:57)
5. John Barleycorn (6:27)
6. Every Mothers Son (7:08) 

Disco em ótimo estado. Capa (dupla) em bom estado (um pouco envelhecida e com manchas de "antiguidade"... rs - sem rasgos).
Edição Brasileira de 1972.
Saindo por R$ 35,00


quarta-feira, 26 de março de 2014

Nektar - A Tab in the Ocean (72)



"Trabalho emblemático na carreira do Nektar, responsável por sedimentar a popularização do grupo na Alemanha e por abrir portas na América, 'A Tab In The Ocean' é de uma força incrível, impossível não apreciar a bateria vintage, o órgão carregado e a guitarra super inspirada que formam os pilares básicos durante a execução do disco. Outra característica marcante é a primazia com que o grupo é capaz de alternar as partes pesadas com outras suaves, com destaque para a pegada hard da cozinha, na linha de bandas como Deep Purple, Wishbone Ash, Scorpions e Eloy fase 'Inside'/'Floating'.

O grupo manteve a formação original para esse segundo disco, trazendo em suas fileiras Roye Albrighton - vocal e guitarra, Allan Freeman - teclados, Ron Howden - bateria e vocais e Derek 'Mo' Moore - baixo, vale destacar a participação nos efeitos de Mick Brockett que já havia trabalhado com o Pink Floyd alguns anos antes. O embrionário 'Journey To The Centre Of The Eye' trouxe à tona uma sonoridade marcada pelas origens do grupo em Hamburgo, na Alemanha, mas foi este segundo trabalho que alçou o grupo ao estrelato da cena progressiva mundial, repercutindo com sucesso nos EUA, provando que o Nektar foi o maior responsável pela concepção original da junção entre o mais puro krautrock (afinal estavam in loco, no coração do estilo), com os elementos do rock clássico inglês, capitaneado por bandas como Uriah Heep, Yes e notadamente o Pink Floyd, maior fonte de inspiração conterrânea para o grupo, antes de rumar para terras germânicas.

A primeira faixa, responsável pelo título do disco, é daquelas suítes que estão marcadas na história do rock. O tema é fortemente relacionado à temática de ficção científica que tanto agrada o Nektar, conforme anteriormente observado no álbum de estréia. A introdução marcada pelo órgão de Freeman é onírica e segue num crescente magnífico até desembocar numa segunda etapa pesada, onde se percebe a fórmula que marca a condução do grupo pela figura de liderança do guitarrista Roy Albrighton, daí pra frente a guitarra segue sempre em primeiro plano, deixando os teclados meio escondidos e a cozinha marcando com eficiência o ritmo dos vocais. Algumas vezes a mixagem que permite à guitarra estar sempre em primeiro plano, incomoda um pouco, já que na maioria das vezes ofusca os outros instrumentos, relegando-os ao pano de fundo. Na apresentação que o Nektar fez no palco do Canecão, no Rio de Janeiro, essa característica ficou nitidamente acentuada, tendo a guitarra sido executada num volume excessivo, tornado quase que completa a inexistência dos teclados, e ainda assim Roye insistia com os técnicos para aumentar o retorno da guitarra. Felizmente em Niterói, as guitarras estavam mais ajustadas e não tão ensurdecedoras, tornando a apresentação do grupo bem superior. Voltando à música título, a virada de ritmo ao seis minutos é marcante, após um movimento de turbação entre baixo e bateria, surge um solo suave de guitarra para os vocais de Roye - 'Falling, I'm only falling/To the answer, to every question/Is it real, or just deception? Depois outro movimento mais forte com o famoso rif de guitarra característico de 'A Tab In The Ocean', seguindo a linha hard até desembocar num movimento psicodélico com um coro de vozes agonizante.

Apesar dessa música ter sido a grande responsável pelo sopro de popularidade do Nektar nos anos setenta, ainda assim considero 'Burn Out Of My Eyes' superior, por isso aprecio como o grande disco da banda, o debutante. A verve blueseira de Roye aflora na introdução de 'Desolation Valley/Waves', um primor o desenvolvimento nas guitarras com notas choradas e um feeling incrível. A linha de baixo de Moore também arrebenta numa virada alucinante para o contraponto entre a força do hard e a suavidade do blues, permeado em tintas psicodélicas no hammond de Freeman. A partir dessa etapa percebe-se que o Nektar seguiu uma fórmula consagrada na época, semelhante a de sucessos como 'Tarkus' e 'Atom Heart Mother', que consiste numa longa suíte de abertura preenchendo a totalidade do lado A do vinil, com uma distribuição de faixas de curta/média durações no lado B.

'Crying In The Dark' é o maior hit do álbum, composição venerada pelos admiradores da banda, exaltada nos quarto cantos do planeta, ao pensar em Nektar, se pensa na força da letra: I've been cryin'/cryin' in the dark. O breve solo de teclado é o melhor em todo o disco, criando a deixa perfeita para um solo de guitarra matador do Roye Albrighton que culmina com o término da música, numa apoteose sem fim emendada com a resplandecente 'King Of Twilight'. O cover criado pelo Iron Maiden desta breve música nos anos oitenta, gerou um certo frenesi nos jovens fãs dos deuses do metal clássico, ocasionando uma certa busca pelo pilar original, que na própria Inglaterra era pouco conhecido em meados da década de oitenta.

A Rock Symphony lançou esse belo disco no Brasil, na mesma versão da Dream Nebula, contendo a versão original produzida na Alemanha e também a versão americana de 1976, onde esta segunda é muito superior à primeira, o instrumental está bem mais equilibrado, permitindo visibilidade a todos os instrumentos de forma mais equânime, ao contrário da versão original pautada nas guitarras. A destacar também a melhora nas bateria, com inúmeras viradas que não constam na versão germânica. A única exceção reside nos vocais, já que nessa mixagem americana o Roye desafinou bastante, com alguns falsetes super inverossímeis, mas não tenho a menor dúvida em optar pela versão americana quando coloco o cd no player. Para aqueles que pensam em adquirir essa versão nacional, podem se preparar para desembolsar a preço de importado, já que em menos de dois meses saiu de catálogo, sucesso total de vendas!"

(http://progbrasil.com.br/ExibeResenha.php?eID=713)


Lado um
"A Tab In The Ocean" – 15:31

Lado dois
"Desolation Valley" – 5:45
"Waves" – 2:53
"Crying In The Dark" – 5:27
"King Of Twilight" – 4:07

Disco e capa em excelente estado.
Importado USA.
Edição Original 1972.
Saindo por R$ 70,00

Faith No More - Live at the Brixton Academy (91)



"O Faith No More foi uma das bandas pioneiras em misturar metal tradicional a outros ritmos como funk, rap, dance, country e soul (além de usar teclados e samples). Embora à primeira vista pudesse parecer impossível agradar aos fãs de metal com sonoridades tão distintas, a banda conseguiu no decorrer dos anos o respeito do público e crítica. O disco "Real Thing" foi um importante marco para a modernização do rock pesado no final da década de 80.

A banda se formou em 1984, com Chuck Mosely (vocal), Jim Martin (guitarra), Billy Gould (baixo), Mike Bordin (bateria) e Roddy Bottum (teclados). Com esta formação lançaram seu álbum de estréia auto intitulado em 1985. "Introduce Yourself", de 1987, embora não tenha sido um sucesso de vendas, trouxe o primeiro hit da banda, "We Care A Lot", executado à exaustão em rádios universitárias e programas de rock alternativo nos Estados Unidos e Inglaterra.

Em 1988 ocorreu a mudança que faria a carreira da banda dar um grande salto. O vocalista Chuck Mosely foi expulso da banda (se juntando à banda Bad Brains) e chamado para seu lugar assumiu os vocais o desconhecido "Mike Paton". O estilo desleixado e agressivo de Mike Paton, bem como o seu domínio sobre o público nos shows ao vivo, viria a marcar a imagem da banda desde então. O álbum "Real Thing" de 1989 trouxe os grandes hits "Epic" e "From Out Of Nowhere", que conquistaram para a banda uma legião de seguidores fiéis. 

O álbum ao vivo de 1991, "Live At The Brixton Academy" foi um sucesso absoluto de vendas em termos mundiais, com as músicas tocadas mais rápidas e furiosamente que em suas versões de estúdio, incluindo a versão para "War Pigs" do Black Sabbath que se tornaria uma marca registrada do Faith No More desde então. Na mesma turnê tocaram no Rock In Rio em sua segunda versão, o maior show que haviam participado até então."

(Fonte: Faith No More http://whiplash.net/materias/biografias/039448-faithnomore.html#.UzOCCahdX5Q#ixzz2x7hv7YEw)


Disco e capa em excelente estado.
Edição Brasileira Original de 1991.
Saindo por R$ 30,00


segunda-feira, 24 de março de 2014

“PRATA DA CASA”, 1982



Este vinil gravado (ao vivo) no Teatro Glauce Rocha, em maio de 1982, foi um marco e elevou o nome de uma geração. Na época, fora a família Espíndola, no cenário musical do novo Estado, só os sertanejos eram 'reconhecidos' pelo público local. Tetê era a cantora mais “famosa”. Almir Sater recém lançava seu primeiro disco, mas já era desconhecido nacionalmente. O show da gravação contou ainda com inúmeros artistas locais que despontavam. O valor histórico deste vinil foi marcante. Gravou no cenário cultural do novo estado a sua primeira geração de jovens e promissores talentos, entrando definitivamente para a história musical de MS. 


FICHA TÉCNICA => 01) - QUYQUYHO: (Geraldo Espíndola). Geraldo Espíndola contrabaixo/voz. 02) - CORAÇÃO VENTANIA: (Carlos Colman). Grupo Therra. 03) - CORAÇÃO SOLITÁRIO: (Celito Espíndola). Celito Espíndola: violão/voz. 04) - PÁSSARO BRANCO: (Chico Lacerda/Vandir Nunes Barreto). Grupo Acaba. 05) – VIOLEIROS: (José Boaventura/Rubens Aquino de Oliveira). Coral Sesc/Pró-música. 06) - VIDA CIGANA: (Geraldo Espíndola). Tetê Espíndola. 07) - CARNE SÊCA: (Eduardo Oliveira/Cláudio Frates). Cláudio Prates, voz/baixo; João Fígar: vocal/percussão. 08) – SOLIDÃO: (João Fígar). João Fígar: voz/violão. 09) – DESCUIDADO: (Paulo Gê). Junia Marize: voz; Paulo Gê: violão/voz. 10) – HORIZONTES: (Guilherme Rondon/Iso Fischer/Paulo Simões). Guilherme Rondon: voz/violão; Iso Fischer: piano/voz; Sandra Menezes: voz; Rômulo Monteiro: voz. 11) - SONHOS GUARANIS: (Paulo Simões/Almir Sater). Paulo Simões: voz/violão. 12) - TREM DO PANTANAL : (Paulo Simões/Geraldo Roca). Almir Sater: voz. Capa: Jorge Luiz Mendonça de Almeida. Edição: Estúdio Gravodisc. Prensagem: Wea Discos Ltda. 


Disco e capa em ótimo estado.
Edição Original de 1982.
Saindo por R$ 35,00


domingo, 16 de março de 2014

Cat Stevens - Tea for the Tillerman (1970)



""Tea for the Tillerman" é o quarto álbum do cantor e compositor inglês Cat Stevens. Lançado em 1970, o disco é considerado o mais importante da carreira do artista. O compositor contraiu tuberculose em 1969 e esteve à beira da morte, fato que tornou suas letras mais introspectivas, com reflexões sobre a vida, espiritualismo e amor. 

Na gravação do álbum, acompanharam Stevens: Alun Davies (Guitarra e vocal de apoio), John Ryan (Baixo), Harvey Burns (Bateria), Del Newman (Arranjos) e John Rostein (Violino). Em 2008, A&M Records lançou uma edição deluxe do álbum, cd duplo com versões extras ao vivo e demos. Cat Steves se converteu ao islamismo e passou a se dedicar à religião desde 1978, hoje é conchecido como Yusuf Islam.

A canção "Where do Children Play" traz uma reflexão sobre as constantes mudanças do homem, mostra preocupação com temas como meio ambiente, pobreza e degradação. "Hard Heart Woman": interpretação da canção de Claude Demetrius. Fez grande sucesso na versão rock and roll de Elvis Presley. Stevens interpreta a canção de forma diferente, instimista e em ritimo mais lento. "Miles from nowhere" trata do ideal de liberdade e a proximidade da chegada da morte, esta também citada em "But I Might Die Tonight". As dúvidas e reflexões prosseguem nas canções "On the Road to Find Out", "Tea for the Tillerman", "Into White" e "Longer Boats". 

O álbum como um todo é brilhante, mas três canções têm um destaque especial: a clássica "Wild Word", interpretada por vários artistas, destaque para a excelente versão de Jimi Cliff, tem como inspiração a jovem estadunidense Patti D'Arbanville, com quem se relacionou por mais de 2 anos; a poética"Sad Lisa", levada à base do piano, retrata a dor e solidão de uma mulher com o pseudônimo Lisa, destaque para o belo solo de volino de John Rostein; e a mais que especial "Father and Son", que retrata o sofrimento de um pai ao ver seu filho ir embora de casa, em busca seu próprio destino."

(Fonte: Resenha - Tea for the Tillerman - Cat Stevens http://whiplash.net/materias/cds/172273-catstevens.html#.UyXU0ahdX5Q#ixzz2w92vVEgf)

O álbum foi eleito como o 206° melhor Álbum de Todos os Tempos pela Revista Rolling Stone. Este álbum também está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame.


Lado A
"Where Do the Children Play?" – 3:52
"Hard Headed Woman" – 3:47
"Wild World" – 3:20
"Sad Lisa" – 3:45
"Miles from Nowhere" – 3:37

Lado B
"But I Might Die Tonight" – 1:53
"Longer Boats" – 3:12
"Into White" – 3:24
"On the Road to Find Out" – 5:08
"Father and Son" – 3:41
"Tea for the Tillerman" – 1:01


Disco e capa em ótimo estado.
Edição Brasileira de 1989.
Saindo por R$ 25,00


Nana Vasconcelos - Saudades (1979)



Saudades is an album by Brazilian jazz percussionist Naná Vasconcelos recorded in 1979 and released on the ECM label.

The Allmusic review by John Storm Roberts awarded the album 4½ stars stating "This 1979 recording is probably Afro-experimentalist Vasconcelos' finest. It presents his various facets -- berimbao playing, intricate overlain vocals, fine percussion, even gorgeous guitar -- simply and almost overwhelmingly. This is one of those performances that remind one to never let natural dogmatism get too out of hand".

(wikipedia)

Track listing

All compositions by Naná Vasconcelos except as indicated

"O Berimbau" - 18:58
"Vozes (Saudades)" - 3:14
"Ondas (Na Óhlos De Petronila)" - 7:53
"Cego Aderaldo" (Egberto Gismonti) - 10:32
"Dado" - 3:36

Recorded at Tonstudio Bauer in Ludwigsburg, West Germany in March 1979

Personnel

Naná Vasconcelos — berimbau, percussion, gongs, voice
Egberto Gismonti — guitar
Stuttgart Radio Symphony Orchestra conducted by Mladen Gutesha


Disco e capa em ótimo estado.
Edição Brasileira de 1983.
Saindo por R$ 30,00

Gilberto Gil - ao vivo em Montreux (78)



""Este disco foi uma coisa à parte", define Gilberto Gil. "Eu fui cantar em Montreux e eles gravaram o show... porque sempre gravam os shows do festival, mas acho que já sabiam que ia ter disco".

Gil havia sido contratado há pouco pela Warner e já estava trabalhando num primeiro disco em Los Angeles. Voltado para o mercado internacional, o álbum – "Nightingale", que estava sendo produzido por Sérgio Mendes – obviamente não seria lançado no Brasil. Mas a gravadora tinha urgência em inaugurar a sua discografia de Gil e quis aproveitar a performance do artista em Montreux para lançar um disco.

Gil seguiu de Los Angeles com o baixista Rubens "Rubão" Sabino, enquanto que os irmãos Pepeu Gomes (guitarra) e Jorge Gomes (bateria), ainda com os Novos Baianos, viajaram especialmente do Brasil. Naquela edição do festival também se apresentaria a banda A Cor do Som, então o tecladista Mu foi convidado a participar do show de Gil.

"Compus Chororô no quarto do hotel e lembro que ensaiamos por quatro ou cinco dias onde hoje funciona a Sala Stravinsky, mas que na época era apenas um depósito que nos foi cedido", lembra Gil. "A Warner quis a gravação, pois tinha o projeto de lançá-la e havia pressa por um novo disco".

É compreensível o interesse pelo lançamento do álbum duplo ao vivo, ocorrido no Brasil apenas um mês depois do show de 14 de julho. Era a primeira performance de um artista brasileiro no festival. Gravado em 16 canais por David Richards, do Mountain Recording Studio de Montreux, o disco foi mixado pelo produtor Mazola no estúdio Transamérica (RJ) e chegou ao mercado com textos de apresentação de Tárik de Souza, João Luiz de Albuquerque e Nelson Motta, críticos musicais presentes naquele histórico evento.

O repertório trazia duas pérolas do repertório dos Doces Bárbaros – Chuckberry Fields Forever e São João Xangô Menino – a inédita Chororô, a resgatada Respeita Januário (de Luiz Gonzaga) e as velharias Batmakumba, Procissão, Atrás do Trio Elétrico etc, sem contar uma jam session com A Cor do Som e o tecladista Patrick Moraz (ex-Yes).

Junho, 2002
Montreux
Nelson Motta

Gilberto Gil foi a grande sensação da noite de música brasileira e acabou se transformando num dos principais personagens do 12º Festival Internacional de Jazz de Montreux. Aplaudido durante quase meia hora pela platéia eletrizada após sua apresentação, Gil teve que voltar ao palco cinco vezes por exigência do público que esgotou a lotação do Cassino de Montreux. A apresentação de Gil foi num crescendo absoluto e já na terceira música tinha a platéia inteiramente dominada, cantando com ele e marcando o ritmo das canções com palmas. Com o público todo de pé, Gil apenas conduziu um entusiasmado coro de quatro mil vozes através de algumas de suas músicas mais ritmadas e envolventes, como "Batmakumba", gritada em delírio por todos nessa noite inesquecível para a música brasileira que pode perfeitamente vir a ter a mesma importância histórica que teve a apresentação da bossa nova no Carnegie Hall de Nova York há quase vinte anos. A crítica internacional presente se mostrava excitadíssima e agradavelmente surpresa com a que foi considerada como uma das mais importantes contribuições aos hoje gastos e fechados caminhos do jazz, sem perda da substância brasileira em que se baseia o trabalho de Gil.

Julho / 78
Gilberto Gil
Tárik de Souza

Além de ter os sons à flor da pele, o músico precisa dos poros abertos aos fluidos da platéia. Gilberto Gil sempre exercitou com precisão essas suas aptidões básicas. E no 12º Festival Internacional de Jazz de Montreux fez de quase quatro mil suíços outros tantos foliões baianos, aos pulos, atrás de seu trio elétrico eclético.

MONTREUX, JULHO / 78
"14 de julho de 1978"
João Luiz de Albuquerque

14 de julho de 1978 passou a ser uma data muito importante para a música popular brasileira. Naquele dia, no palco do Cassino de Montreux, na Suíça, um grupo de músicos brasileiros transformou o mais importante festival de jazz da Europa numa festa brasileira. Da marchinha carnavalesca ao baião, do tradicional à música moderna, rolou um som que aquelas 3.700 pessoas presentes – por sinal a maior platéia em 12 anos de Festival de Jazz de Montreux – além do público que assistiu a noite de Viva Brasil! através da televisão européia. Era sextafeira, dia de Oxalá. Gilberto Gil, todo de branco, como era de lei, disse ao entrar no palco, para o percussionista Djalma Correa:
- Toca alguma coisa para Oxalá.
O que aconteceu a partir daquele momento está registrado neste disco.
Além da qualidade artística e altamente emotiva da música apresentada, é preciso não esquecer o papel desempenhado pela platéia: de parte passiva, transformou-se, entusiasmada, em parte do próprio espetáculo. No palco, Gilberto Gil foi também o maestro, a controlar e modular aquela explosão de entusiasmo, levando do pianíssimo ao pique o comportamento daquele grupo enlouquecido pela música e ritmo do Brasil.

MONTREUX, JULHO / 78

1. 09:19 Chuck Berry fields forever 
2. 07:40 Chororô 
3. 10:00 São João, Xangô menino 
4. 06:57 Respeita Januário 
5. 04:17 Ela 
6. 11:40 Batmakumba / Exaltação à Mangueira 
7. 10:48 Procissão / Atrás do trio elétrico / Mamãe eu quero 
8. 05:14 Triolê 

Discos e capa em ótimo estado.
Edição Original de 1978.
Saindo por R$ 35,00


Mott The Hoople - Greatest Hits (76)



"Mott the Hoople/Greatest Hits suffers a bit because this band, whose "Tales of the Near Great" stories made them sentimental favorites, produced only two albums of real worth after they moved from Atlantic to Columbia. One sees the breakdown of the group following the departure of guitarist Mick Ralphs in the terribly ill-fitting and annoying lead guitar work of Ariel Bender. Still, such gems as "All the Way from Memphis," along with a different take of "Roll Away the Stone" and two previously unheard cuts, "Foxy Foxy" and "Saturday Gigs," give this absorbing group a belated last testament.

- Billy Altman, Rolling Stone, 1-13-77.

Now reorganized with new key personnel, Mott recalls its most successful period with writer/singer Ian Hunter on this collection. With David Bowie's song and production on "All The Young Dudes," the group came to stand for glitter rock. But its sound only took on glitter after mastering the elements of basic rock excitement. Best cuts: "All The Young Dudes," "All The Way From Memphis," "Roll Away The Stone.

- Billboard, 1976.

Hits my ass. Never heard "Foxy Foxy" on the radio, and never want to. But the other new one, "Saturday Gigs," recapitulates quite movingly a banal theme this collection fleshes out with real wallop: a band and its fans. Four songs is too much overlap with 1973's Mott, but this is the essence of Mott the Hoople as a group, which always needed Ian Hunter and always did more than back him up. 

- Robert Christgau, Christgau's Record Guide, 1981.

Mott is a bit of an anomaly. They began their existence as a hard rock band, but with the addition of Ian Hunter as lead singer and principal writer, they took on a Dylanesque coloration. However, it was their affiliation with David Bowie during his early-Seventies glitter period that provided them with "All the Young Dudes," a song that catapulted them to brief fame. Consummate borrowers from their better- and lesser-known rock brethren, Mott melded disparate elements into a dynamic, often humorous, sound that combined the bombast of early heavy metal with Seventies glitter, and just about everything else you or they could think of. In retrospect, Mott was a more potent band than originally perceived. Greatest Hits is a reasonable sampler, but is inferior to both All the Young Dudes and Mott. As an overview, thirty-eight minutes isn't long enough; too much quality material is omitted, such as "Ready For Love," "Sea Diver," and "Sweet Jane." What remains is generally first-rate, it's just too bad that Columbia didn't take advantage of the other half of the CD's capacity and provide a disc that is a fairer sample of this fun band's erratic but rocking career. Given the diversity of original material, the compact disc's sound is remarkably consistent and generally acceptable. However, it does suffer from compression, some mudiness, and rather closed imaging. 

- Bill Shapiro, Rock & Roll Review: A Guide to Good Rock on CD, 1991.

(http://www.superseventies.com/motthoople.html)

Disco e capa em ótimo estado.
Edição Original 1976.
Importado USA.
Saindo por R$ 45,00


quarta-feira, 12 de março de 2014

Jimi Hendrix - Rare Hendrix (77)



"Brazilian 8-track Square label vinyl LP album, housed in a Brazil only picture sleeve." (http://eil.com/shop/moreinfo.asp?catalogid=343282


Tracks:

1. Good Feeling
2. Voice in The Wind
3. Go Go Shoes Part 1
4. Go Go Shoes Part 2
5. Good Times
6. Bring My Baby Back
7. Suspicious
8. Hot Trigger 


Disco e capa em ótimo estado.
Edição Brasileira Original de 1977.
Saindo por R$ 40,00

Bauhaus - The Sky's Gone Out (82)



É o terceiro álbum de estúdio da banda Bauhaus, lançado em 1982, pela gravadora Beggars Banquet Records.

"It makes perfect sense that, during the lean years of the progressive scene in the early 1980s, many of the more interesting British groups would emerge from the same underground scene from which "prog" was originally spawned. With the progressive movement having abandoned its "roots" by this period, the ideas inherent in those roots would obviously be explored by other movements. If one looks beyond the differences in musical virtuosity, it is not terribly difficult to find some links between the early progressive scene and the early Gothic scene. That the progressive movement has only rarely interacted with this later musical development may suggest that the divisions caused in the backlash of 1977 remain a stultifying force in the music industry.

That isn't why I'm reviewing The Sky's Gone Out, however. This album makes the TR series by virtue of the fact that (i) it includes remakes of two "art rock" standards, and (ii) the fact that many of the lyrical and vocal hysterionics reminded me of Peter Hammill (this is not to suggest that Murphy was influenced by Hammill; I am simply noting a similarity). If this review successfully indicates some common ground between the two movements, it has served a useful purpose.

Bauhaus are considered in some circles to have been the originators of the Gothic Rock movement (although Joy Division actually came first). Between 1979 and 1983, their dirgelike musical explorations created the basis from which several imitative bands would later emerge. Peter Murphy has since embarked on a solo career, and the remaining members have created Love And Rockets (who bear further prog-related credentials by virtue of having a song entitled "No New Tale To Tell", considered by some to be a Jethro Tull parody). The Sky's Gone Out is sometimes considered to be the best Bauhaus release.

The album begins with a cover of "Third Uncle", the original version of which appears on Brian Eno's Taking Tiger Mountain (By Strategy). This version features a faster tempo, a simplified arrangement, more intense vocals and considerably more profanities than I recall having been in the original. This is, in other words, the very definition of a stripped-down, straight-ahead "new wave" cover. Daniel Ash's guitar techniques are not "progressive" per se, but indicate a proficiency in soundscape creation; Haskins's drumming is impressively tight as well. This doesn't quite match the original (the gradual buildup of Eno's version is largely absent here), but it is a noble and brave effort. As an introductory track, it serves its function well.

"Silent Hedges" is a more substantial song, featuring more impressive guitar texturing to accompany its dark lyrical motifs. It's quite easy for this reviewer to envision Peter Hammill singing these lyrics; the themes of stark landscapes concealing hidden secrets would work extremely well with this usual tendencies. Those with no interest in Gothic stylings might not find this terribly interesting, but there is clearly some talent here. The tempo change towards the end is a nice effect.

"In The Night" is a slightly less successful number written on the same general premise as "Silent Hedges". The distorted guitars and brooding bass lines work extremely well in this number, and Murphy's description of suicidal isolation fits the track quite well. As against that, some of the vocal "tricks" don't really seem to suit the song, thereby relegating it to the "good but flawed" category. Still, there's not too much to complain about.

A brief guitar soundscape leads into the next song. "Swing The Heartache" is a slower number, telling the story of a frustrated female member of gothic society with unfulfilled artistic ambitions. The primary instrumental feature of the song seems to be the razor-like guitar tone which emerges at certain points. Several more guitar tricks emerge in the extended instrumental outro, most of which seem to fit the general motif of the song. On both a lyrical and instrumental level, a success.

The first thing which this reviewer noticed about "Spirit" is the fact that its opening keyboard line (played by whom?) was nicked by U2 for the lead melody in "Mothers Of The Disappeared", released five years later on The Joshua Tree. That aside, this is a fairly interesting track. The music progresses in a catchy manner, with Murphy reciting disturbing lyrics in a manner half-detached from the musical basis (for those who catch, the three-second Spanish guitar reference is rather cute). The track ends with a demented "We love our audience" mantra, sung over some fairly decent guitar tricks from Ash.

The suite which then follows is the triumph of the album. While it would be incorrect to refer to "The Three Shadows, Part One" as having roots in the progressive movement, it clearly has links to the early psychedelic jams of Pink Floyd. Minimalist guitar lines eventually develop into fairly elaborate ambient webs. The "backing vocals of the damned" section is a nice touch as well. This instrumental is easily the best song on the album.

"The Three Shadows, Part Two" introduces the lyrical narrative of the suite: Murphy speaks from the perspective of a detached figure (possibly a god, or at least a priest), condemning the decadence of his followers. Mysterious references to fish and ritual sacrifice add to the general intrigue of this speech. From a musical standpoint, it's very similar to the previous track, save that the tempo is increased somewhat.

The brief "The Three Shadows, Part Three" consolidates some of the mystery of the previous track, wherein the speaker reveals that the souls of his followers are transformed into fish following their deaths. The music has by this time become quite demented, and by ears pick out what appears to be a violin (again, played by whom?) added into the mix. Some ambiguity of meaning remains at the end of this track, which seems appropriate. This suite is the most interesting section of the album, by far. (For those following along, it's also the section most similar to Peter Hammill's tendencies).

From there, the album proceeds to the slightly disappointing "All We Ever Wanted Was Everything". This track begins in a fairly banal manner (both musically and lyrically); though it eventually improves somewhat, it never really escapes the Brit-pop trappings of its introduction. Those uninterested in recent Verve singles might wish to skip this one.

"Exquisite Corpse" returns the album to its proper track. After a brief, sarcastic a capella recitation by Murphy, a slightly demented band performance appears (with heavily distorted guitars). The track then comes to a full stop, and begins anew with Hammill-esque lyrics after the decline of a royal figure (as per the title). Another full stop, and the band reappears with a reggae section (at about the same tempo as "Meurglys III", oddly enough), complete with snoring effects in the background. The distorted guitars and vocal mantras return at the end. A truly bizarre number, and one deserving of critical praise.

This marked the end of the original release, but recent CD issuings have included a series of bonus tracks. This version of "Ziggy Stardust" appears as a calculated attempt at targeting the youth bracket of the music-buying public; this is a straightforward cover, with an "in your face" ethos that ultimately detracts from the value of the original track. Bowie's original song structure allows this version to receive a decent rating; Bauhaus themselves deserve little credit as such.

"Party Of The First Part" consists primarily of a dialogue between an aspiring singer and a satanic/mechanical music executive (who eventually steals the soul of the singer on the night of her greatest triumph, due to the fact that she signed her contract in blood without reading it first). The band plays a downbeat jazz line in the background. Decent, if less than essential.

The second version of "Spirit" is a rare triumph: providing a true alternative while essentially remaining true to the ... er ... spirit of the original. This version features a faster tempo and a diminished level of dirgelike qualities. The "We love our audience" section is generally edited out of this version; this aside, the track is a valid revision of the original.

Finally, we have "Watch That Grandad Go", a novelty dance instruction song featuring a bizarre funk-rock musical ethos. An entire album of this might be unbearable; on its own, though, this is amusing enough to justify its presence (though the inane second vocal line -- by either Ash or Jay -- could be jettisoned fairly easily). A saxophone (for the third time, played by whom?) adds another element to the mix. They don't actually find the grandad mentioned in the title, by the way.

Such is The Sky's Gone Out.

Is this an album that most progressive fans would like? No. Aside from followers of the tiny prog-psych-goth axis (including groups like the Legendary Pink Dots and ... um ... not many others), there would probably be few progressive fans who would show a strong interest in this music.

Could the progressive scene benefit from exposure to albums like this? Probably. But it's influence will probably remain minimal."

(http://www.tranglos.com/marek/yes/tr_72.html)



"Nunca houve uma banda igual. Muitos tentaram imitá-los, mas sempre com resultados patéticos. Apesar do que muita gente possa afirmar, The Sky's Gone Out é um excelente álbum, de uma banda incapaz de fazer qualquer coisa de mau. 

A abertura com Third Uncle, escrita por Brian Eno, debita energia e uma batida invulgarmente pop. Silent Hedges é Bauhaus em versão ameaçadora e enigmática: "Following the silent hedges / Needing some other kind of madness / Looking into purple eyes / Sadness at the corners / Works of art with a minimum of steel", com Peter Murphy a berrar "Going to hell again... again... again..." A mistura de guitarra acústica, letras sinistras e voz carismática cria o ambiente sonoro original que justifica o epíteto de inimitável.

O disco é igualmente conhecido pelos momentos de experimentalismo arrojado, como em Swing the Heartache, The Three Shadows ou Exquisite Corpse. Não é música comercial. Nada que possa ser ouvido regularmente nas estações de rádio de grande audiência, mas faz as delícias das rádios universitárias, sempre em busca de surpreender novos ouvintes com terrores nocturnos vindos do passado. Os Bauhaus não são apenas uma banda gótica; são A BANDA GÓTICA POR EXCELÊNCIA!"

(http://umpianonafloresta.blogspot.com.br/2008/07/1982-skys-gone-out-bauhaus.html)

Faixas

"Third Uncle" (Brian Eno) – 5:14
"Silent Hedges" – 3:09
"In the Night" – 3:05
"Swing the Heartache" – 5:51
"Spirit" – 5:28
"The Three Shadows, Pt. 1" – 4:21
"The Three Shadows, Pt. 2" – 3:12
"The Three Shadows, Pt. 3" – 1:36
"All We Ever Wanted Was Everything" – 3:49
"Exquisite Corpse" – 6:39


Disco e capa em excelente estado.
Edição Original de 1982.
Importado USA.
Saindo por R$ 50,00

Pink Floyd - The Dark Side of the Moon (73)



"Polêmico, este disco. Gravita entre a absoluta adoração de sues fiéis e a crítica não menos feroz dos seus detratores. É bom sinal. Será mesmo a grande obra de Roger Waters (baixo, vocal), Rick Wright (teclados), David Gilmour (guitarra, vocal) e Nick Mason (bateria)? 

Alguns poderão preferir "The Piper at the Gates of Dawn", de 1967, o primeiro LP da banda, quando seu líder era um louco iluminado e genial chamado Syd Barrett, ou ainda "Ummagumma", de 1970, a soma definitiva do rock psicodélico. Quem sabe os mais de 20 milhões de cópias de "Dark Side of the Moon" vendidas no mundo inteiro e sua permanência por 630 semanas consecutivas nas listas dos mais vendidos da Billboard - recorde absoluto - possam ratificar essa escolha. Mesmo que as más línguas digam que muitos o adquiriram apenas para testar a estéreo-quadrifonia de seu equipamento de som, o que não deixa de ser um elogio, de certa forma.

Foram oito meses de gestação nos famosos estúdios Abbey Road de Londres, em clima geral de renovação. A palavra de ordem: a música deveria ser mais amarrada, mais próxima à urgência do rock. No final de 1972, o material estava pronto. Para fazer a mixagem, Roger Waters chama Chris Thomas, que já havia participado da mixagem do duplo álbum branco dos Beatles e produzido os LPs "Grand Hotel", do Procol Harum, e "For Your Pleasure", do Roxy Music. 

"Cada um tinha uma idéia diferente do que devia ser feito. Precisávamos fazer a síntese de tudo isso." Todos concordavam com pelo menos uma coisa - a ordem dos títulos deveria transmitir uma idéia de progressão e variação em torno de um mesmo tema: "São todas as pressões da vida moderna que podem nos levar à loucura. Essas pressões tem por nome dinheiro, viagens, planejamento, que nós músicos sentimos muito mais que o homem da rua. Quando tudo vacila, chega-se ao estado patológico do lunático" (David Gilmour). Pela primeira vez o Pink Floyd aderia ao álbum conceitual.

Todas as faixas foram concebidas como filmes sonoros, feitos de bandas magnéticas preparadas por Nick Mason. Batidas de coração, respiração, passos, relógios, risos histéricos, gritos, moedas caindo e caixas registradoras não somente servem de ilustração como se integram à própria estrutura rítmica da cada composição, em particular na seqüência "Speak With Me" / "Breathe" / "On The Run", e em "Money", hit entre os hits. Se a força da evocação desses sons é extraordinária, eles não interferem com os momentos mais líricos do álbum, como em "The Great Gig in the Sky", onde, sobre o fundo de piano e órgão Hammond, Clare Torry edifica uma interpretação vocal que figura entre as mais pungentes e líricas da década. Em "Brain Damage", Roger Waters tece uma vibrante homenagem a Syd Barrett, numa reconstituição poética atormentada do universo da alienação.

Se "Dark Side of the Moon" parece trazer uma certa pasteurização do som do grupo, se os caleidoscópios de cores que dominavam as longas viagens lisérgicas dos LPs precedentes se transformaram num prisma de onde as cores surgem ordenadas e limpas (uma metáfora certeira para descrever a nova importância do estúdio, agora transformado em espaço central de criação, o que torna a música mais artificial e deixa seus autores mais distantes), em compensação, os avanços técnicos primorosos exibidos por este álbum - em particular a tomada de som, a cargo de um certo Alan Parsons - ajudaram a banda a alcançar uma força de expressão cósmica capaz de unir o passado à modernidade, que só encontra paralelo num disco lançado por coincidência no mesmo ano, a trilha sonora de "Laranja Mecânica".

Levantando as barreiras que opunham até então as gerações musicais, o Pink Floyd jogou as bases para a criação de uma música ao mesmo tempo moderna e universal."

(Seção Discoteca Básica, Revista Bizz#021, abril de 1987 - texto de Jean-Yves de Neufville, in: http://www.collectorsroom.com.br/2009/02/discoteca-basica-bizz021-pink-floyd.html)

Faixas:
A1. Speak to Me - 1:30
A2. Breathe - 2:43
A3. On the Run - 3:30
A4. Time - 6:53
A5. The Great Gig in the Sky - 4:15

B1. Money - 6:30
B2. Us and Them - 7:34
B3. Any Colour You Like - 3:24
B4. Brain Damage - 3:50
B5. Eclipse - 1:45


Disco e capa (dupla) em excelente estado.
Edição Brasileira de 1985.
Saindo por R$ 70,00

Obs: na foto, parece um risco mas é uma "sombra" de um capim... rs


segunda-feira, 10 de março de 2014

Gal Costa - Fa-tal: Gal a Todo Vapor (71)



"Há momentos sublimes da criação do artista, cujo carisma é assimilado por uma legião de pessoas em busca de uma definição de ideais, sonhos ou apenas identificação na essência mais primária da composição do retrato humano. Quando esse momento acontece em uma determinada obra do artista, esta lhe é arrebatada (quase usurpada) e feita voz, ícone e representação. 

No Brasil da fase pós-AI-5, promulgado em 13 de dezembro de 1968, o endurecimento da ditadura deixou uma geração calada e sem rumo. Uma geração que passou pelos suspiros das contestações de 1968, pelo psicodelismo embriagante do roque do fim dessa década, pelas drogas, a Tropicália, o movimento Flower Power e pelo histórico espetáculo de Woodstock; essa mesma geração chega ao início da década de setenta mergulhada em um vazio e em uma lacuna deixada pelo silêncio de quem pensava e via as palavras caladas pela força bruta.

Essa geração sem heróis ou ídolos para exaltar e refletir o espelho de Narciso, encontra-se em 1971 com Gal Costa, que com a sua voz de sereia, estreava o show que seria o símbolo dessa geração: “Gal a Todo Vapor”. Nessa simbiose entre artista e público, a geração que ficaria para sempre conhecida como a do desbunde, faz do show um momento de fuga e sonho, de poder dizer não às convenções de uma sociedade de um país calado pela repressão, mas mutante em seus costumes. O show estréia em novembro de 1971 no Teatro Tereza Raquel, no Rio de Janeiro, dirigido por Waly Salomão. Com ele a geração do desbunde elege a sua musa, Gal Costa. O espetáculo torna-se obrigatório durante todo o verão de 1972.

Do show surge o álbum duplo “Fa-tal: Gal a Todo Vapor”. O disco, assim como “Werther” de Goethe, é arrebatado da cantora para se tornar o hino cultural da geração do desbunde.

“Fa-tal – Gal a Todo Vapor” foi lançado pela Philips antes do natal de 1971. Primeiro álbum duplo da carreira de Gal Costa, traz dezenove faixas e dezessete canções, que foram imortalizadas no show. Na capa é destacada a boca vermelha da cantora ao microfone, que a partir de então, seria símbolo e ícone da sua carreira, juntamente com os cabelos. Quando lançado em CD teve as disposições das músicas alteradas em relação ao LP e até a capa veio adulterada.

Como completa tradução de uma geração calada e perdida em suas próprias dúvidas, é um disco de canções existencialistas e de sentimentos rasgados à flor da pele. Grandes nomes da MPB identificados à época como representantes do underground, assinam as faixas.

“Dê Um Role” (Galvão – Moraes Moreira) inicia o canto que arrebatará a geração dos cabeludos. Vinda de músicos da banda Novos Baianos, é um rompimento de quem traduz no amor os anseios de uma vida, maior do que a força do dinheiro. Ser “amor da cabeça aos pés” é ser maior do que o modelo da sociedade capitalista tão bem representada pelo “milagre brasileiro”, então no seu auge.

Mas se “Dê Um Rolê” é superior ao momento vivido, “Mal Secreto” (Jards Macalé – Waly Salomão) é a própria sombra dilacerante da força bruta que cala um país, uma juventude. Visceral, inquietante, protesto sufocado e silêncio diluído nos medos, mascarar e massacrar a dor, uma realidade social ou do amor.

“Pérola Negra” (Luiz Melodia) é a ousadia da nova forma de amar que a década trazia, “tente saber tudo mais sobre o sexo”, porque já se pode falar sobre sexo, estamos diante da geração que no final da década de sessenta descobrira o amor livre, que descobriu ser possível levá-lo para dentro dos brandos costumes da sociedade. Gal Costa quase que grita com o seu canto, esse momento tão arrancado de dentro de quem vivia a fase de transição da mudança de tais costumes. A música cresce, a voz da cantora é aqui guerreira, mostrando porque aquela geração a havia escolhido para musa. Quem ousava na época cantar a relação rasgando a camisa e as roupas? Com esta canção um novo compositor fica conhecido no cenário musical brasileiro, Luiz Melodia. Gal Costa revisitaria “Pérola Negra” na comemoração dos seus trinta anos de carreira, no álbum “Acústico MTV”, em 1997, em dueto com o compositor da música.

Duas faixas do “Legal” (1970), álbum anterior, são registradas aqui: “Hotel das Estrelas” (Duda – Jards Macalé) e “Falsa Baiana” (Geraldo Pereira). A primeira é uma canção que descreve a juventude que vê amigos mortos pela ditadura e pela droga. A juventude que se sente tolhida e ameaçada. Nem a ditadura nem a droga oferecem saídas, mas a segunda alivia um pouco mais os tormentos. É a solidão dos anos vista pela janela e pela distância:

“Dessa janela sozinha
Olhar a cidade me acalma
Estrela vulgar a vagar
Rio e também posso chorar
Oh, e também posso chorar…”

A segunda, música de 1944, leva uma roupagem estilo bossa nova que se perpetuou ao repertório de Gal Costa, uma verdadeira baiana. Teria uma terceira versão no “Acústico MTV“.
Um momento intimista do disco, quebrando um pouco o seu canto instigante, acontece com “Assum Preto” (Humberto Teixeira – Luiz Gonzaga). Aqui Gal Costa usa a sua voz de sereia como arma da mais profunda beleza e tristeza, como os olhos da ave cegada para cantar melhor. Como a cantora se sentia com o exílio dos amigos da Tropicália. A interpretação comove. O disco segue na linha da saudade e da homenagem aos amigos: “Bota a Mão nas Cadeiras” (Folclore Baiano), homenagem à Maria Bethânia, que cantava a canção em seu show ”Rosa dos Ventos”. “Maria Bethânia” (Caetano Veloso) reflete a homenagem à cantora homônima. “Não se Esqueça de Mim (Chuva, Suor e Cerveja)” (Caetano Veloso) é uma lembrança aos amigos Caetano e Gil, que estão do outro lado do Atlântico, em Londres.

“Como Dois e Dois” (Caetano Veloso) aparece em duas faixas. A canção foi gravada naquele ano por Roberto Carlos, tornando-se sucesso de público na interpretação do cantor. O registro de Gal Costa é mais intimista, apesar de aparecer duas vezes no álbum, não marca o seu repertório e nem se torna uma interpretação essencial. E como o tempo é de sofrimento existencialista, “tudo vai mal” ou tudo está perfeito “como dois e dois são cinco”, Caetano Veloso fizera a música no auge do seu exílio na Europa.
Ainda percorrendo o universo intimista do álbum, esbarramos com a canção “Fruta Gogóia” (Folclore Baiano), que “Como Dois e Dois”, também aparece em duas faixas. Recuperada do vasto folclore da eterna magia baiana, “Fruta Gogóia” é daquelas canções que por algum motivo se prendeu para sempre ao mundo musical de Gal Costa, não se separando mais. A canção volta a ser incluída no álbum “Gal Costa ao Vivo”, de 2006. E cumprido a promessa, samba que Gal Costa ensaiar o mestre não olha.
Na calma momentânea do álbum passamos rapidamente por “Charles Anjo 45” (Jorge Ben), outra alusão ao amigo Caetano Veloso.

Na sua visita de homenagens à saudade, traz de volta “Coração Vagabundo” (Caetano Veloso), primeiro quase sucesso de sua carreira em 1967, do álbum de estréia “Domingo”. E alguns anos depois, o coração não se cansava em tempos difíceis, de ter esperança de um dia ser tudo.

Desfilando pela MPB, Gal Costa recupera uma antiga canção, “Antonico” (Ismael Silva), que até então já ninguém mais se lembrava, depois desse registro, ninguém mais se esqueceu. “Antonico” tornou-se uma canção cultuada pelos críticos e fãs da cantora. Em algumas fases da recente história brasileira, a canção foi assimilada no cotidiano brasileiro com o nepotismo e com a política de favores. Assim como “Fruta Gogóia”, também voltaria a ser regravada no álbum “Gal Costa ao Vivo”.

O auge do intimismo do álbum é alcançado com “Sua Estupidez” (Erasmo Carlos – Roberto Carlos), uma das interpretações mais definitivas da carreira da cantora. A canção tinha sido lançada por ela em um compacto simples no início de 1971. A melodia, a poesia da letra, a melancolia saudosista e a sua beleza ímpar, tudo cai com perfeição à voz da cantora. “Sua Estupidez” consegue algo raro, ser diferente e lírica em todas os registros que há na interpretação de Gal Costa. Além das duas versões de 1971, ao vivo e em estúdio, ela reaparece em 1997 no “Acústico MTV” e no dueto com Roberto Carlos em seu tradicional programa de fim de ano na Rede Globo; em 2006 numa participação especial no álbum de Wagner Tiso, “Wagner Tiso 60 Anos – Um Som Imaginário”. Nos cinco registros Gal Costa emociona nas interpretações desta canção.

Após as canções intimistas, voltamos à essência do álbum com “Luz do Sol” (Waly Salomão – Carlos Pinto). Novamente o protesto implícito da geração sufocada pelo medo e pelos perigos do regime. Aqui já não se grita que tudo é perigoso, ou divino maravilhoso, os tempos são outros. Tempo de silêncio e tortura, de sobrevivência. E quem sobrevive só pensa em ver a luz do sol brilhar novamente nas trevas dos tempos e da história do Brasil.
Mas é “Vapor Barato” (Jards Macalé – Waly Salomão) a canção que se irá tornar o hino oficial da Geração do Desbunde. A canção tinha sido lançada em compacto no início de 1971, em uma versão rock, totalmente diferente da versão ao vivo. A canção reflete essa juventude intelectualmente consciente do momento vivido, mas presa às limitações do regime e da droga. É na contestação da sexualidade imposta e do amor livre proposto que extravasam essas limitações. Os amores são fugazes, por isso vividos intensamente. Seguir à deriva dos sentimentos, partir sem olhar para trás em um navio ou outro veículo qualquer, sem as imposições do dinheiro, aqui novamente desprezado em relação aos sentimentos, visceralmente vividos.

“Oh, sim, eu estou tão cansado
Mas não pra dizer
Que eu não acredito mais em você
Com minhas calças vermelhas
Meu casaco de general
Cheio de anéis
Vou descendo por todas as ruas
E vou tomar aquele velho navio”




E “Fa-tal – Gal a Todo Vapor”, termina como começou, após um grande role, imerso no vapor barato em fuga, encerrando um dos mais emblemáticos e belos álbuns da MPB. O álbum é poesia underground, é marginal, de um existencialismo convulsivo. Fez parte de um movimento cultural que tomou o canto de Gal Costa como hino. Ver o show Gal a Todo Vapor e ouvir o disco era sinônimo de não ser careta, de pertencer a esse movimento."

(http://jeocaz.wordpress.com/2008/03/24/fa-tal-gal-a-todo-vapor-o-album-da-geracao-do-desbunde/)

Ficha Técnica:

Fa-tal – Gal a Todo Vapor
Philips
1971 

Direção geral: Waly Salomão
Direção de produção e estúdio: Roberto Menescal
Técnico de gravação: Jorge Karan (gravação ao vivo)
Assistente de produção: Paulo Lima
Arranjos: Lanny
Capa: Luciano Figueiredo e Oscar Ramos
Fotos: Edison Santos e Ivan Cardoso

“Fa-tal“: título extraído do poema homônimo, incluído no livro “Me Segura Que Eu Vou Dar Um Troço” de Waly Salomão

Faixas:

1 Fruta gogóia (Folclore Baiano), 2 Charles anjo 45 (Jorge Ben), 3 Como dois e dois (Caetano Veloso), 4 Coração vabundo (Caetano Veloso), 5 Falsa baiana (Geraldo Pereira), 6 Antonico (Ismael Silva), 7 Sua estupidez (Erasmo Carlos – Roberto Carlos), 8 Fruta gogóia (Folclore Baiano), 9 Vapor barato (Jards Macalé – Waly Salomão), 10 Dê um role (Moraes Moreira – Galvão), 11 Pérola negra (Luiz Melodia), 12 Mal secreto (Jards Macalé – Waly Salomão), 13 Como dois e dois (Caetano Veloso), 14 Hotel das estrelas (Jards Macalé – Duda), 15 Assum preto (Humberto Teixeira – Luiz Gonzaga), 16 Bota a mão nas cadeiras (Folclore Baiano), 17 Maria Bethânia (Caetano Veloso), 18 Chuva suor e cerveja (Caetano Veloso), 19 Luz do sol (Waly Salomão – Carlos Pinto)


Disco (duplo) e capa (dupla) em excelente estado.
Edição Original de 1971.
Saindo por R$ 70,00